
Em menos de 6 meses, o rio Madeira saiu do menor nível da história, quando chegou a 19 centímetros de profundidade em Porto Velho (RO), em outubro do ano passado, e subiu para 16,67 metros nesta sexta-feira (4). A mudança brusca de cenário, que já afeta quase 9 mil pessoas, é resultado do Inverno Amazônico, quando as chuvas se intensificam em toda a região Norte.
Além do rio Madeira, o rio Machado também teve o cenário alterado em poucos meses, saindo do menor nível já registrado, 6,04 metros, para 11,34 metros entre o final de 2024 e o início de 2025. A maior marca já registrada no rio Machado foi 18,85 metros, em 2019. Em Santa Luzia D’Oeste (RO), as aulas foram suspensas por tempo indeterminado porque os alunos da zona rural não conseguem chegar na escola.
No Pará, o rio Xingu também transbordou, levando o governo federal a reconhecer situação de emergência na cidade de São Félix do Xingu. A chuva também fez transbordar os rios Tocantins e Itacaiúnas, deixando comunidades isoladas nas cidades de Marabá e Oeiras do Pará.
Já no Amazonas, cinco rios atingiram níveis acima dos registrados no mesmo período do ano passado, deixando em alerta 23 dos 62 municípios do estado. Apesar dos alagamentos, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) prevê que as cheias não vão atingir marcas históricas neste ano.
Famílias ribeirinhas na gangorra dos rios
Quem vive às margens dos rios na Amazônia e depende deles para sobreviver percebe com mais intensidade as mudanças bruscas no sobe-e-desce do nível das águas. Mesmo acostumados com os períodos de seca e de cheia, os ribeirinhos dizem que os reflexos têm mais fortes.
Emanuele Rodrigues, moradora de São Félix do Xingu, no Pará, contou que a inundação deixou muitas famílias isoladas, que precisaram de barcos para conseguir sair das áreas alagadas.
“Algumas pessoas estão mais isoladas, sem conseguir sair da comunidade. Mas com ajuda de canoas, jangadas improvisadas, as pessoas saem para ir atrás de mantimentos”, disse Emanuele.
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Leia Garcia contou que os alagamentos estão prejudicando os estudos dos filhos. “Na maioria das vezes, eles faltam [às aulas] por conta da chuva. É bem difícil o acesso devido aos buracos e lama”.
Uma situação bem diferente da que enfrentou Maria de Fátima, moradora da comunidade Terra Firme, em Porto Velho, quando o rio Madeira secou no ano passado.
“Nós passamos por uma situação difícil, principalmente por questões da falta de peixes para quem vive do extrativismo da pesca, nossa produção não se desenvolveu. Agora, muitos ribeirinhos estão passando dificuldades porque estão vendo sua produção se perdendo nas águas do rio”, relatou.
De acordo com a Defesa Civil Municipal de Porto Velho, 29 comunidades são diretamente afetadas pela cheia do rio Madeira. Além disso, outras 36 comunidades estão em alerta. Na BR-425, já não é possível mais distinguir asfalto do rio
Além dos impactos sociais, essa oscilação dos rios amazônicos causa sérios impactos ambientais, especialmente para as comunidades ribeirinhas.
“As cheias repentinas podem causar dificuldades de navegação, prejuízos à agricultura, problemas de saneamento e o aumento de ‘terras caídas’, eventos com grande potencial destrutivo. Além disso, há um risco elevado de incêndios florestais, que também impactam as comunidades locais”, explicou o engenheiro hidrólogo do Serviço Geológico do Brasil, Marcus Suassuna.
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FONTE: G1