O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), autarquia federal responsável por garantir a conformidade de produtos e serviços no Brasil, enfrenta um período conturbado sob a gestão de Márcio André Oliveira Brito, presidente desde março de 2023.
Nos últimos dois anos, denúncias protocoladas no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Controladoria-Geral da União (CGU) apontam indícios de práticas irregulares na condução do órgão. Um dos principais focos das suspeitas diz respeito à reprodução de métodos considerados não ortodoxos, já adotados por Brito durante os 12 anos em que esteve à frente do Instituto de Pesos e Medidas do Amazonas (Ipem-AM).
Relatórios de auditoria anteriores no Ipem-AM já indicavam o possível uso indevido de recursos públicos — incluindo a construção de um barco com sinais de superfaturamento. De acordo com as denúncias, esse “modus operandi” teria sido transferido para a esfera federal.
Entre os pontos mais críticos apurados pelo TCU está o crescimento atípico dos repasses federais aos INMETROs regionais do Amazonas e do Piauí. No Amazonas, estado natal de Márcio Brito, os valores saltaram de cerca de R$ 6 milhões em 2023 para R$ 31 milhões em fevereiro de 2024 — um aumento de mais de 400%. Já o INMETRO Piauí, terra natal do diretor de Planejamento e Articulação Institucional do Inmetro, Maycon Danilo, viu os seus repasses duplicarem, de R$ 3 milhões em 2023 para quase R$ 6 milhões em 2024, além de envios extras que somam R$ 4,7 milhões somente no primeiro trimestre de 2025, um verdadeiro presente de natal.


A denúncia destaca ainda o suposto favorecimento a esses dois estados em detrimento de institutos como o de São Paulo, que historicamente lidera em arrecadação. O desequilíbrio nos critérios de distribuição levanta suspeitas de uso político dos recursos.
O presidente Márcio Brito também é acusado de manter relações políticas próximas com o governador do Amazonas, Wilson Lima — aliado declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro — com quem se reuniu recentemente em agendas locais. A denúncia ressalta ainda que Renato Marinho Bezerra Júnior, indicado por Brito, comanda atualmente o INMETRO Amazonas, consolidando o que o documento chama de “privilégio injustificável, motivado por interesses pessoais e políticos”.

Além dos repasses, o relatório encaminhado ao TCU menciona indícios de esquemas de “rachadinhas”, assédio moral dentro do gabinete da presidência, e contratação de terceirizados para atender demandas pessoais do presidente.
Embora a gestão do Inmetro negue as acusações, os apontamentos reacendem a preocupação sobre a transparência no uso dos recursos públicos e colocam a autarquia no centro de uma crise de credibilidade.