
A guerra na Ucrânia está prestes a entrar em uma nova fase, com implicações geopolíticas profundas, após uma recente autorização dos Estados Unidos para o uso de mísseis ATACMS pela Ucrânia. Essa decisão, tomada no domingo (17 de novembro) pelo presidente Joe Biden, permite que Kiev utilize mísseis de longo alcance para bombardear o território russo, uma medida que então até estava restrita às ações de defesa. Com o aval dos EUA, o governo de Volodymyr Zelensky poderá atacar alvos estratégicos na Rússia, como bases aéreas, depósitos de suprimentos e centros logísticos, dificultando o reabastecimento das tropas russas e impactando diretamente na logística militar do Kremlin.
Os mísseis ATACMS são sistemas de mísseis táticos de longo alcance, desenvolvidos pela Lockheed Martin, com capacidade de atingir alvos a até 300 milhas de distância. Com um poder destrutivo significativo, os projetos carregam até 170 kg de explosivos, tornando-os uma ameaça para qualquer instalação militar adversária. Originalmente destinadas a combater alvos soviéticos durante a Guerra Fria, essas missões já foram usadas em diversos conflitos, como a Operação Tempestade no Deserto, em 1991, e a invasão do Iraque em 2003.
A autorização para o uso dos ATACMS é vista como uma resposta direta à escalada da guerra e à crescente presença de tropas norte-coreanas auxiliando as forças russas, especialmente na cidade estratégica de Kursk, perto da fronteira com a Ucrânia. Com isso, a dinâmica do conflito pode mudar significativamente, já que a Rússia, que tem reiterado suas ameaças de uso de armas nucleares em resposta ao uso de mísseis contra seu território, vê essa ação como uma provocação direta. A declaração de que a Rússia não toleraria ataques contra o seu solo já foi feita por Vladimir Putin, que indicou que essa poderia ser uma linha vermelha que, se cruzada, traria consequências catastróficas.
A decisão de Biden de autorizar essa escalada na guerra, que parecia ser um passo arriscado devido à possibilidade de uma resposta agressiva de Moscou, reflete uma mudança no cenário internacional. O temor de uma intensificação do conflito nuclear foi contrabalançado pela urgência da situação, especialmente com a entrada ativa da Coreia do Norte no lado russo. A recente vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA também parece ter influenciado a decisão, já que o republicano, conhecido por suas posturas firmes em relação ao conflito, havia prometido resolver a guerra rapidamente, uma promessa que Biden parece querer antecipar para evitar um impasse prolongado.

O uso dos ATACMS é, portanto, um movimento estratégico que visa não apenas avançar sobre a Rússia, mas também marca uma mudança no equilíbrio de poder, com o objetivo de minar a capacidade de resistência de Moscou sem recorrer a uma escalada nuclear imediata. No entanto, o risco de uma resposta devastadora por parte da Rússia permanece alto, especialmente com a retórica beligerante de Putin e a possibilidade de um confronto direto entre potências nucleares.
Essa decisão traz consigo um dilema perigoso para o futuro da guerra, pois pode não apenas intensificar os combates, mas também ampliar o escopo da guerra, potencialmente levando a uma intervenção de maior escala por parte de outros países. A autorização para o uso dos mísseis ATACMS representa um ponto de inflexão na guerra da Ucrânia, cujas repercussões poderão ser sentidas nas relações internacionais e na segurança global por muitos anos.
Fonte: Olhar Digital