Ceres, o maior objeto no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, sempre intrigou os cientistas desde sua descoberta em 1801 por Giuseppe Piazzi. Um novo estudo publicado na revista Nature Astronomy sugere que, no passado, Ceres pode ter sido um mundo oceânico, coberto por um extenso oceano lamacento que, com o tempo, se transformou em uma crosta gelada e escura.
Estrutura e Composição de Ceres
Tradicionalmente, a superfície de Ceres é caracterizada por crateras de impacto, que davam a impressão de um corpo celeste seco e estável. Entretanto, pesquisadores da Universidade de Purdue e do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA (JPL) realizaram simulações computadorizadas que desafiam essa visão. A pesquisa, liderada pelo doutorando Ian Pamerleau e pelo professor Mike Sori, revela que Ceres pode conter uma crosta rica em gelo, com a possibilidade de que até 90% de sua composição seja feita de água congelada, muito mais do que as estimativas anteriores, que indicavam menos de 30%.

Essa nova perspectiva é fundamentada em simulações que demonstraram que uma crosta gelada poderia resistir ao relaxamento das crateras ao longo de bilhões de anos, algo que antes parecia implausível para um corpo celeste com alta porcentagem de gelo. Segundo Sori, “encontramos evidências que sustentam a presença significativa de gelo próximo à superfície de Ceres, diminuindo em profundidade”.
Implicações para a Astrobiologia
Os dados obtidos pela missão Dawn da NASA, que estudou Ceres entre 2015 e 2018, são cruciais para essa nova compreensão. As observações sugerem que o subsolo de Ceres é rico em gelo, enquanto o regolito (a camada superficial) apresenta indícios de gelo impuro, corroborando a hipótese de um antigo oceano lamacento.

Além disso, a densidade de Ceres, calculada a partir de medições gravitacionais, é compatível com a presença de “gelo sujo”, que contém impurezas como rochas e minerais. Essas características fazem de Ceres um candidato promissor na busca por vida extraterrestre, especialmente quando comparado a outros mundos oceânicos do Sistema Solar, como as luas de Júpiter, Europa, e Saturno, Encélado, que também abrigam oceanos congelados.
Futuras Missões e Exploração
Ceres, por estar mais próximo da Terra em comparação a esses outros corpos gelados, se destaca como um alvo viável para futuras missões espaciais. As características brilhantes observadas em sua superfície podem ser remanescentes do antigo oceano lamacento, oferecendo uma excelente oportunidade para coleta de amostras e exploração.
Ao considerar o potencial de Ceres como um mundo oceânico, os cientistas podem desenvolver novas estratégias para entender não apenas a evolução deste planeta anão, mas também a dinâmica de outros mundos oceânicos no Sistema Solar. Ceres se torna, assim, uma referência crucial para futuras investigações sobre a habitabilidade e a história da água no cosmos.