O que fez o furacão Milton explodir em intensidade e experimentar uma intensificação rápida praticamente recorde sobre as águas do Golfo do México? A resposta é simples: mudança do clima por aquecimento global induzido pela emissão de gases do efeito estufa pelo ser humano.
Uma intensificação rápida de ciclone tropical é definida como um aumento nos ventos máximos sustentados do sistema de 50 nós (92,6 k/h) ou mais em 24 horas. O furacão Milton experimentou aumento de 80 nós (148 km/h) nos ventos máximos sustentados em 24 horas. Por que Milton explodiu em intensidade e virou um furacão monstro? A causa tem nome e sobrenome: mudança climática.
As temperaturas da superfície do mar (TSM) na região onde o furacão Milton se formou e explodiu em intensidade estão em valores perto ou acima de recordes máximos da série histórica. Uma análise de atribuição rápida pela Climate Central determinou que essas temperaturas foram tornadas até 400 a 800 vezes mais prováveis pelas mudanças do clima.
A análise do Climate Shift Index da Climate Central é baseada no OSTIA, o produto de dados de temperatura da superfície do mar de alta resolução baseado no Copernicus, o sistema meteorológico europeu, e usado de forma conservadora. Análises futuras e diárias podem calcular números de atribuição ainda maiores, explicam os técnicos.
Normalmente, o Climate Central quantifica a influência específica das mudanças no clima nas temperaturas da superfície do mar diariamente usando dados do OISST, mas por um outro furacão – Helene – os dados estão indisponíveis.
Devido aos impactos devastadores do furacão Helene, as atualizações diárias do Centro Nacional de Informações Ambientais (NCEI), da NOAA, com sede em Asheville, Carolina do Norte, permanecem indisponíveis. O Dr. Daniel Gilford, meteorologista e cientista climático da Climate Central, destaca que;
“as mudanças do clima claramente aqueceram as águas do Golfo que alimentaram o desenvolvimento de Milton, provavelmente sobrecarregando sua rápida intensificação e tornando este furacão muito mais perigoso”.
É absoluto consenso entre os meteorologistas que o aquecimento enorme das águas do Golfo do México foi a causa para a rápida e explosiva intensificação do furacão Milton. Como o Golfo está superaquecido desde o ano passado, os meteorologistas já esperavam que isso ocorresse neste ano quando se formassem os ciclones tropicais, alertando o público que poderiam se intensificar mais que o indicado pelos modelos de computador usados em previsão.
Mas o aquecimento recorde das águas não está ocorrendo apenas na superfície do mar, mas também em profundidades maiores. Quanto mais fundo a água quente alcança, mais energia está disponível para o furacão ganhar força, disse Hosmay Lopez, oceanógrafo do Laboratório Meteorológico e Oceanográfico Atlântico da NOAA. “Esse é um dos ingredientes essenciais para a formação de furacões”, destacou.
A velocidade com que Milton se intensificou fez com que John Morales, meteorologista veterano de 40 anos de profissão da tevê de Miami, se emocionasse no ar na segunda-feira. “Isso é simplesmente horrível”, comentou com a voz embargada no noticiário local da rede NBC.
“Os mares estão incrivelmente, incrivelmente quentes. Recorde de calor como você pode imaginar. Você sabe o que está causando isso. Não preciso dizer: aquecimento global, mudança do clima”, desabafou.
As tempestades tropicais no Golfo do México têm 50% mais probabilidade de sofrer rápida intensificação em ondas de calor marinhas ou períodos de altas temperaturas da superfície do mar.
Como as ondas de calor marinhas estão aumentando por conta das mudanças climáticas, eventos frequentes de rápida intensificação também podem ser esperados, de acordo com um estudo do Dr. Radfar no periódico Communications Earth and Environment.
Em agosto, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA) previA que a temporada deste ano poderia estar entre as mais movimentadas já registradas, com até 24 tempestades nomeadas, pelo menos quatro das quais poderiam se transformar em grandes furacões. Com dois meses restantes na temporada de furacões, Milton é a 13ª tempestade nomeada e o quarto grande furacão, depois de Beryl, Helene e Kirk.
fonte: Instituto MetSul