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A diplomacia do fentanil adotada pelo presidente Joe Biden em relação à China está sendo cada vez mais questionada, enquanto a equipe de transição do presidente eleito Donald Trump defende uma postura mais rígida para interromper o fluxo de produtos químicos de fabricação chinesa que alimentam a epidemia de fentanil nos Estados Unidos. A questão das tarifas é apenas uma parte da discussão, com Trump sinalizando que recorrerá a essa ferramenta econômica para pressionar a China e outros países, como México e Canadá, a tomarem medidas mais eficazes no combate ao tráfico de drogas.
A China, que é a principal fornecedora de precursores químicos utilizados por cartéis mexicanos para a fabricação de fentanil, tem sido alvo de intensos debates. O governo de Biden iniciou negociações com Pequim, mas, apesar de alguns avanços, os resultados têm sido modestos, o que gerou frustração entre autoridades de segurança dos EUA e críticos da política de diplomacia. Trump, por sua vez, e seus assessores estão sugerindo uma abordagem mais agressiva, com o uso de sanções e tarifas adicionais para forçar a China a agir de forma mais decisiva.
Em suas postagens no Truth Social, Trump propôs tarifas de 10% sobre produtos da China e 25% sobre mercadorias do México e Canadá, alegando que essas nações não tomaram ações suficientes para impedir a entrada de drogas ilícitas nos EUA. O ex-presidente também sugeriu que os EUA impusessem sanções contra instituições financeiras chinesas ligadas ao comércio de fentanil, um movimento que poderia ter um impacto significativo, dado que tais bancos enfrentariam dificuldades em realizar transações internacionais, incluindo o acesso ao sistema financeiro dos EUA.
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David Asher, ex-funcionário dos EUA especializado em combate à lavagem de dinheiro, sugeriu que uma abordagem mais ampla fosse adotada, incluindo indiciamentos criminais contra bancos e empresas chinesas e mexicanas envolvidas no tráfico de drogas. A proposta de Asher também inclui o uso de recursos do governo dos EUA para atacar os cartéis, incluindo medidas de guerra cibernética e uma maior cooperação entre agências de inteligência, tratando o fentanil como uma ameaça tão grave quanto o terrorismo.
As tensões entre os Estados Unidos e a China atingem novos patamares no contexto da epidemia de fentanil, uma crise que já causou centenas de milhares de mortes nos EUA. Enquanto o governo Biden aponta avanços modestos em negociações com Pequim, a equipe do presidente eleito Donald Trump promete adotar uma abordagem significativamente mais agressiva.
Trump sinaliza tarifas severas e sanções econômicas como ferramentas principais para enfrentar a crise, acusando a China de facilitar a produção de precursores químicos que abastecem cartéis mexicanos. Além disso, há pressão crescente para a aplicação de sanções contra bancos chineses supostamente envolvidos em operações de lavagem de dinheiro. Essas medidas marcariam uma escalada inédita na política externa dos EUA.
Do lado chinês, a Embaixada em Washington destaca os esforços já empreendidos para combater o tráfico de fentanil, alertando que sanções unilaterais apenas enfraqueceriam a cooperação bilateral. O porta-voz Mao Ning, do Ministério das Relações Exteriores da China, rebate as acusações, enfatizando que a crise tem raízes internas nos EUA.
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Apesar da retórica combativa de Trump, sua administração anterior manteve uma relação ambígua com a China, centrando-se mais em disputas comerciais do que no combate aos opioides sintéticos. A Casa Branca de Biden, por sua vez, reconhece que as acusações de subsídios chineses a exportações ilícitas carecem de evidências concretas.
O uso de canais comerciais para entrada de precursores químicos disfarçados nos EUA e enviados a laboratórios mexicanos é um problema amplamente reconhecido. O consenso bipartidário nos EUA é que a China é a origem da crise, mas a questão permanece: como equilibrar pressão internacional e cooperação prática para resolver um problema tão complexo?
A crescente polarização nas relações EUA-China sugere que o futuro trará mais confrontos do que soluções colaborativas, impactando diretamente a eficácia no enfrentamento da crise do fentanil.
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EUA e China: A Divisão nas Negociações sobre o Fentanil
As negociações entre os Estados Unidos e a China sobre a crise do fentanil revelam um abismo profundo entre as duas potências. Autoridades chinesas insistem que a epidemia de fentanil é uma tragédia causada internamente pelos EUA, com a responsabilidade pela contenção recaindo sobre a demanda doméstica. Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, reafirmou que “a causa raiz da epidemia de drogas nos EUA está nos próprios EUA”, desafiando os Estados Unidos a focarem em resolver seu problema interno, ao invés de culpar os fornecedores estrangeiros.
Enquanto isso, a administração Biden, embora comedida em sua abordagem, parece estar perdendo terreno, tanto entre os assessores de Trump quanto entre figuras atuais e passadas do governo dos EUA. Eles observam que a China, embora coopere em áreas específicas, tem usado as negociações sobre o fentanil para pressionar por concessões estratégicas. O que era visto como um esforço diplomático de colaboração entre Washington e Pequim agora é percebido como uma alavancagem para ganhos políticos e econômicos. Um exemplo disso foi a suspensão, em novembro de 2023, das sanções comerciais contra um instituto governamental chinês, uma concessão feita pelo presidente Biden para reatar as negociações durante um momento tenso nas relações bilaterais.
De acordo com fontes entrevistadas pela Reuters, incluindo diplomatas, especialistas em política de drogas e legisladores, as negociações sobre o fentanil são um reflexo das limitações da estratégia de Biden, com algumas autoridades dos EUA criticando a postura conciliatória. Para muitos, a abordagem chinesa em relação ao fentanil é um reflexo de uma tática maior de jogo de poder, onde Pequim usa questões como esta para obter vantagens em outras áreas.
Em contraste, a postura de Trump é de enfrentamento. Assessores próximos ao ex-presidente sugerem que ele adotaria uma abordagem muito mais dura, possivelmente aplicando tarifas mais altas e sanções mais severas, o que poderia aumentar ainda mais a tensão entre os dois países.
A crescente divisão sobre a abordagem ao fentanil entre os dois governos reflete a complexidade das relações EUA-China, com questões estratégicas e comerciais se entrelaçando com os esforços para resolver uma crise de saúde pública. O risco é grande para os Estados Unidos, já que a pressão externa e interna aumenta, sem uma solução clara à vista.
Fontes: Reportagem da Reuters.